O Halal está no Mercado Brasileiro

Os países islâmicos não são os únicos onde se podem comprar produtos halal. Nos supermercados daqui há quase 200 itens certificados. A maioria, porém, não usa o selo, o que poderia atrair mais consumidores muçulmanos.

São Paulo – Encontrar alimentos com o selo halal nas prateleiras dos supermercados brasileiros é uma tarefa bem difícil. São pouquíssimos os itens que exibem a marca, que atesta que um produto é permitido para o consumo de muçulmanos. Isso não quer dizer, no entanto, que estas mercadorias não sejam vendidas aqui. Há cerca de 200 produtos halal disponíveis no mercado brasileiro. A maioria, porém, sem essa identificação.

Segundo dados da Federação das Associações Muçulmanas do Brasil (Fambras), que coordena a Central Islâmica Brasileira de Alimentos Halal (Cibal-Halal), entidade que certifica as empresas interessadas em ter o selo halal, o uso da marca no mercado interno é opcional. “Estamos realizando o trabalho de incentivo do uso do selo. Acredito que, até o segundo semestre de 2016, teremos várias marcas com o selo”, afirma Dib Ahmad El Tarrass, gerente de Desenvolvimento da entidade.

Entre as marcas que disponibilizam produtos certificados nos supermercados do Brasil estão Nestlé, Ferrero, Predilecta, Real Café, Café Iguaçu, Café Pelé, Piracanjuba, Mococa, Quatá, Caravelas, Pic Nic, Carreteiro, Elegê, Sadia e Batavo. Entretanto, para o consumidor, é quase impossível saber quais itens destas marcas são halal. Para se ter uma ideia, em uma busca simples em um supermercado da capital paulista, a reportagem da ANBA encontrou o selo apenas no leite condensado da Nestlé, no queijo minas padrão da Quatá e no açúcar Caravelas.

Para facilitar a vida dos consumidores muçulmanos no Brasil, El Tarrass conta que a Fambras irá disponibilizar uma lista de produtos certificados em seu novo site, que deve entrar no ar em breve. “Em nosso novo site, iremos inserir essa lista informando ao consumidor muçulmano que pode consumir [estes alimentos] com a garantia da Fambras, mesmo que não tenham o selo”.

Segundo o executivo, não são só compradores islâmicos que buscam a associação para saber onde encontrar produtos halal. “Além dos consumidores, a cadeia hoteleira, restaurantes, [empresas de] catering e até o Exército brasileiro nos procurou. Essa questão se evidenciou na última Copa realizada no Brasil”, revela. O torneio mundial de futebol sediado pelo País no ano passado recebeu duas seleções de países muçulmanos, a Argélia e o Irã.

De acordo com El Tarrass, o varejo brasileiro não faz parte da estratégia de mercado da maior parte das empresas que buscam o halal. No mercado interno, as indústrias certificadas visam fornecer matéria prima para as companhias que vendem produtos halal ao exterior. “Atualmente, das 115 indústrias certificadas, 60% são fornecedores de matérias primas destinadas para as indústrias exportadoras”, diz.

Fora os produtos nacionais, é possível encontrar no Brasil certos alimentos vindos do exterior com o selo halal. “Por exemplo, o azeite espanhol Borges é certificado por uma instituição halal da Alemanha e as batatinhas chips da marca Jacker são certificadas pela Jakin Malásia”, explica El Tarrass.

Nas lojas brasileiras, porém, estes produtos ficam dispersos e o consumidor precisa procurar sozinho os alimentos que contêm o selo. Segundo o gerente da Fambras, a entidade pretende iniciar um trabalho de conscientização junto aos varejistas para que identifiquem prateleiras específicas onde podem ser encontrados os produtos halal.

Aqui tem halal
Os números do Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostraram que, na época, havia cerca de 35 mil muçulmanos vivendo no Brasil. Entretanto, as entidades islâmicas calculam que esse número esteja subestimado. “As instituições islâmicas estimam em um milhão [os muçulmanos no Brasil]”, afirma El Tarrass. Mesmo não existindo um consenso sobre o potencial que o mercado halal poderia ter no País, há empresas e instituições que já buscam atender às necessidades dos consumidores que seguem o Islã.

Usina Colombo, que produz o açúcar Caravelas, por exemplo, tem a certificação desde 2008 e usa a marca em suas embalagens do produto no Brasil. “Buscando um diferencial no mercado, decidimos comercializar com o selo halal, e também para facilitar aos consumidores mulçumanos no momento de adquirir o açúcar Caravelas”, conta Walter Cesar Bertoncello, coordenador de Qualidade da indústria, sobre a decisão de usar o selo no mercado interno.

Nos supermercados, o açúcar Caravelas é vendido com o selo halal nos tipos cristal e refinado. A empresa também participa de eventos para promover o açúcar entre os consumidores muçulmanos. “Participamos nas exposições dos produtos certificados realizadas nos eventos da Cibal Halal e também pelo seu site”, aponta Bertoncello.

Na mesquita Arahmah, localizada no bairro de Santo Amaro, em São Paulo, os muçulmanos contam com um açougue onde é possível adquirir diferentes cortes de carne bovina e também frango halal, comprados diretamente do frigorífico Mondelli.

“Meus clientes só compram na mesquita. Essas pessoas iam ao Brás para comprar. Lá tem um açougue onde se mata o boi”, explica Mussaab El Orra, membro da mesquita, sobre a iniciativa de vender carne halal aos fiéis da Arahmah. Ele conta que, no açougue do Brás não há cortes suficientes de carne halal para atender aos pedidos dos clientes, por isso, viu que era importante negociar diretamente com um frigorífico para atender a esta demanda.

El Orra diz que o assunto foi discutido com a diretoria da mesquita, que decidiu pela compra de freezers para armazenar a carne e vendê-la aos fiéis. Ele mesmo visitou as instalações do Mondelli e fechou a parceria com o frigorífico.

Atualmente, a mesquita adquire cerca de 250 quilos de carne por semana para abastecer seus clientes. “Compro carnes como alcatra, maminha, picanha, miolo de acém, além de frango. A margem de lucro é de 10%, 20% só para pagar as despesas da mesquita, como energia”, destaca El Orra.

O açougue da mesquita é aberto após as orações de sexta-feira e também depois das orações noturnas nos outros dias da semana. Mesmo com uma boa procura de muçulmanos pela carne halal, El Orra diz que a iniciativa ainda está mal divulgada. “Só em Santo Amaro, tem mil casas de muçulmanos que poderiam comprar [carne na mesquita]”, aponta.

Para as empresas que ainda não investem na divulgação de seus produtos halal, El Tarrass, da Fambras, lembra que os muçulmanos têm uma taxa de natalidade mais alta que das populações ocidentais, ou seja, é uma população de rápido crescimento, e que se torna fiel às marcas que identifica como permitidas para o seu consumo.

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